Você teria coragem?
Perguntas sobre se homens e mulheres têm ou não conexões diferentes têm surgido há séculos. Mas será que homens e mulheres têm cérebros realmente diferentes?
Na verdade, existe neurossexismo e vale a pena o esforço procurar por distinções masculinas e femininas dentro do crânio? Bem, depende de com quem você fala.
De acordo com um estudo de 2021 publicado pelo Centro de Informação sobre Biotecnologia dos EUA (NCBI), em média, homens e mulheres diferem na estrutura cerebral e no comportamento, levantando a possibilidade de uma ligação entre diferenças de gênero no cérebro e na conduta.
No entanto, o estudo encontrou apenas uma fraca associação entre o tamanho do cérebro e diferenças comportamentais.
Além disso, a base das diferenças médias nos comportamentos masculino e feminino – por exemplo, capacidades cognitivas específicas e traços de personalidade – não é bem compreendida e permanece aberta à interpretação. Mas a questão permanece: o cérebro tem gênero?
Um artigo publicado em fevereiro de 2024 por um grupo de pesquisa da Universidade de Stanford sugere que sim.
O grupo de pesquisa usou um modelo de rede neural de Inteligência Artificial (IA) para observar varreduras cerebrais e ver se ele poderia distinguir de forma "confiável" e "robusta" os cérebros femininos dos masculinos.
O objetivo era saber se o algoritmo poderia dizer se os padrões cerebrais observados eram de mulheres ou de homens. A resposta foi que sim.
As varreduras cerebrais mostraram que existem diferenças nas regiões responsáveis por certas funções.
A maioria dessas diferenças está na rede de modo padrão (a parte do cérebro na qual armazenamos elementos-chave do conhecimento social adquirido pela interação) e no estriado e na rede límbica – áreas envolvidas em uma ampla gama de processos, incluindo sonhar acordado, lembrar o passado, planejar o futuro, tomar decisões e cheiro.
As descobertas foram publicadas pela revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, e divulgadas para diversos meios de comunicação.
De acordo com a equipe de Stanford, esses resultados acrescentaram efetivamente uma nova peça ao quebra-cabeça. Alguns cientistas acreditam que sua pesquisa acrescenta peso à teoria de que o gênero biológico molda o cérebro. Mas nem todos estão convencidos dessa hipótese.
Procurar um cérebro "masculino" e "feminino" não é uma novidade. Mas é um assunto polêmico que tem seus críticos.
A revista científica Nature lembra-nos que "a história da investigação sobre diferenças de gênero está repleta de inumerismo, más interpretações, preconceitos de publicação, poder estatístico fraco, controles inadequados e coisas piores".
Na verdade, o neurossexismo perdura desde o século XIX. Depois, cientistas e filósofos rapidamente tiraram conclusões sobre a inferioridade mental das mulheres, ou a sua falta de aptidão para determinadas tarefas, com base em supostas diferenças anatômicas entre os cérebros masculino e feminino. Na foto de 1931 está uma mulher sentada com um psicógrafo, ou máquina de frenologia, na cabeça. O psicógrafo afirmava discernir mecanicamente as aptidões de um sujeito em uma série de faculdades mentais.
No entanto, as primeiras pesquisas sobre medições da capacidade do crânio demonstraram que os cérebros dos homens eram, em média, um pouco maiores e mais pesados do que os das mulheres. Com base nisso, alguns comentaristas avançaram a chamada teoria das "cinco onças perdidas" [onça aqui refere-se a um tipo de medida de peso], que eles acreditavam ser a chave para as habilidades supostamente superiores dos homens.
Na verdade, observa a New Scientist, a explicação simples é que corpos maiores requerem mais tecido cerebral para funcionar – uma relação observada em todas as espécies animais.
Embora não queira tirar quaisquer conclusões sobre o valor, ou mesmo o significado, das diferenças encontradas pela equipe de Stanford, a neurocientista Gina Rippon, alertou no The Guardian para a propagação de uma agenda de "caça às diferenças s-xuais".
"Parece haver uma necessidade implacável, mesmo no mundo de hoje, de encontrar um bom conjunto de diferenças específicas do gênero no cérebro, biologicamente programadas, e concordar que estas devem ser a base de quaisquer diferenças entre mulheres e homens no comportamento, ou temperamento, ou habilidade e realização", argumentou Gina Rippon, professora emérita de neuroimagem cognitiva da Aston University, na Inglaterra.
Enquanto isso, pesquisadores de Stanford expressaram otimismo de que seu trabalho ajudaria a esclarecer as doenças cerebrais que afetam homens e mulheres de maneira diferente.
Esses estudiosos citaram o fato de que o autismo e o Parkinson são mais comuns em homens, enquanto a esclerose múltipla e a depressão são mais comuns em mulheres.
"Uma motivação chave para este estudo é que o gênero desempenha um papel crucial no desenvolvimento do cérebro humano, no envelhecimento e na manifestação de distúrbios psiquiátricos e neurológicos", reforçou em comunicado o autor sênior do estudo, Vinod Menon, professor de Psiquiatria e Ciências Comportamentais em Stanford.
"Identificar diferenças s-xuais consistentes e replicáveis no cérebro adulto saudável é um passo crucial para uma compreensão mais profunda das vulnerabilidades específicas do gênero em distúrbios psiquiátricos e neurológicos", acrescentou Menon.
Ainda assim, a noção de que existem diferenças cognitivas entre homens e mulheres com base no tamanho do cérebro permanece controversa.
Mas sendo as questões de gênero um dos assuntos mais comentados do século 21, a questão de saber se existem diferenças entre os cérebros dos homens e das mulheres foi colocada ainda mais sob o microscópio.
"Se continuarmos a acreditar no argumento de que as diferenças entre homens e mulheres são intrínsecas, permanentes e intratáveis, então quaisquer tentativas de abordar as desigualdades serão facilmente rejeitadas", destacou a neurocientista Gina Rippon.
Mas Vinod Menon, de Stanford, alerta que "ignorar as diferenças s-xuais na organização do cérebro pode nos levar a ignorar fatores-chave implícitos aos distúrbios neuropsiquiátricos".
Assim, embora a investigação liderada pela IA tenha avançado um grande feito na discriminação histórica e na política de gênero para chegar à verdade sobre as diferenças entre os cérebros dos homens e das mulheres, a atitude adotada por muitos cientistas é a de que quaisquer resultados devem ser interpretados com bastante cautela.
Fontes: (NCBI) (PNAS) (The Guardian) (Nature) (New Scientist) (Stanford Medical Magazine)
Os resultados de um estudo publicado em fevereiro de 2024 por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Stanford lançaram uma nova luz sobre um polêmico tema: homens e mulheres têm cérebros diferentes? De acordo com os autores da pesquisa, as varreduras cerebrais geradas pela Inteligência Artificial indicam de fato que eles e elas têm conexões diferentes e que existem contrastes na capacidade cognitiva. Mas a comunidade científica em geral está dividida sobre esta questão, com alguns acadêmicos alertando para a propagação de uma agenda de "caça às diferenças sexuais". Então, a busca para descobrir se um cérebro "masculino" e "feminino" são realmente distintos vale a pena ou é apenas uma perda de tempo? Há quem defenda que o primeiro é importante para saber quais doenças cerebrais afetam mais homens e mulheres, por exemplo.
Será? Clique na galeria e tire suas próprias conclusões.
Os cérebros do homem e da mulher são realmente diferentes?
Algumas doenças cerebrais podem afetar mais homens do que mulheres
SAÚDE Corpo humano
Os resultados de um estudo publicado em fevereiro de 2024 por uma equipe de pesquisadores da Universidade de Stanford lançaram uma nova luz sobre um polêmico tema: homens e mulheres têm cérebros diferentes? De acordo com os autores da pesquisa, as varreduras cerebrais geradas pela Inteligência Artificial indicam de fato que eles e elas têm conexões diferentes e que existem contrastes na capacidade cognitiva. Mas a comunidade científica em geral está dividida sobre esta questão, com alguns acadêmicos alertando para a propagação de uma agenda de "caça às diferenças sexuais". Então, a busca para descobrir se um cérebro "masculino" e "feminino" são realmente distintos vale a pena ou é apenas uma perda de tempo? Há quem defenda que o primeiro é importante para saber quais doenças cerebrais afetam mais homens e mulheres, por exemplo.
Será? Clique na galeria e tire suas próprias conclusões.