Spoiler: não é necessariamente uma coisa boa
O polígrafo tem tudo a ver com a detecção de mentiras. Um dispositivo que mede e registra vários indicadores fisiológicos, como pressão arterial, pulso, respiração e condutividade da pele enquanto uma pessoa é questionada e responde a uma série de perguntas. O polígrafo é uma ferramenta forense potencialmente valiosa. Na verdade, ele tem sido usado por agências de aplicação da lei para extrair informações de suspeitos por mais de um século. Mas esse aparelho não está isento de falhas. Houve alguns fracassos notáveis onde as consequências foram trágicas.
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O jornalista inglês Daniel Defoe (c. 1660-1731) escreveu um ensaio em 1730: 'An Effectual Scheme for the Immediate Prevent of Street Robberies and Suppressing All Other Disorders of the Night' ("Um Esquema Eficaz para a Prevenção Imediata de Roubos de Rua e Supressão de Todas as Outras Desordens Noturnas", em tradução livre). Foi ali que ele deu início a uma teoria de que o pulso de um indivíduo suspeito poderia revelar que a pessoa estava mentindo. E não é que o autor de 'Robinson Crusoé' tinha razão?
Em 1878, a invenção do esfigmomanômetro pelo fisiologista italiano Angelo Mosso (1846-1910) foi capaz de detectar a mudança na pressão arterial em resposta a certos estímulos.
Em 1890, Angelo Mosso revelou uma versão inicial do ergógrafo, um aparelho para registrar a força e a frequência de flexão dos dedos.
Da mesma forma, em meados da década de 1890, o psiquiatra e criminologista italiano Cesare Lombroso (1835-1909) especulou que medir a frequência cardíaca e a pressão arterial de uma pessoa poderia revelar uma resposta emocional ligada à mentira.
Antes, em 1879, o terapeuta francês Marie Gabriel Romain Vigouroux havia teorizado que, diante da mentira, a resistência elétrica da pele mudaria de tal forma que fosse mensurável. Essa reação seria posteriormente denominada "resposta eletrodérmica". Mais tarde, o psicólogo ucraniano-americano Boris Sidis (1867-1923) conseguiu provar a relação entre emoções e mudanças galvânicas na pele humana. Sidis (foto) publicou seu estudo na Universidade de Harvard em 1901.
À medida que a tecnologia médica avançou no início do século XX, o cardiologista escocês James Mackenzie foi capaz de conceber um dos primeiros polígrafos. Inaugurado em 1906 e baseado no funcionamento do eletrocardiógrafo (foto), o aparelho era capaz de medir pulsos arteriais e venosos e traduzi-los como linhas contínuas no papel.
Em 1914, o psicólogo austríaco-italiano Vittorio Benussi (1878-1927) foi o primeiro a tentar usar a avaliação do registro da respiração para detecção de mentiras.
Embora ainda considerado por muitos como um dispositivo médico para registrar os sinais vitais de um paciente (pulso, pressão arterial, temperatura, frequência respiratória, etc.), o polígrafo foi visto por outros como uma possível ferramenta de interrogação. Nesta fotografia de 1915, um prisioneiro passa por testes psicológicos com um detector primitivo de mentiras enquanto um guarda fica atrás dele com uma pistola.
De fato, o psicólogo de Harvard, Hugo Münsterberg (1863-1916), defendeu a aplicação da máquina no direito penal, tendo em conta tanto a imparcialidade científica quanto a conclusividade.
Foi um dos colegas de Münsterberg, o psicólogo americano William Moulton Marston (1893-1947), que junto com sua esposa, Elizabeth, inventou um protótipo avançado do polígrafo. Em testes com colegas, ele relatou uma taxa de sucesso de 96% na detecção de mentirosos.
As agências de aplicação da lei começaram a tomar nota deste potencial novo dispositivo de combate ao crime. Na foto, em 1922, está William Pinkerton (chefe da polícia privada e da força de detetives) "interrogando" o chefe de polícia de São Francisco, que está conectado a um aparelho detector de mentiras.
A invenção do polígrafo moderno é creditada ao policial e psiquiatra forense americano John Larson (1892-1965). Larson, visto aqui à direita, idealizou o que chamou de "cardio-pneumo-psicograma".
No início da década de 1920, Larson havia desenvolvido completamente seu polígrafo para uso forense. Na foto está o suspeito de assassinato Henry Wilkens fazendo um teste de detector de mentiras. Foi por meio do dispositivo de Larson que o homem foi inocentado da suspeita do assassinato de sua esposa.
Formado na Universidade de Berkeley, Leonarde Keeler (1903-1949) desenvolveu a invenção de John Larson para criar uma versão tecnicamente muito mais avançada do polígrafo. Ele está na foto testando seu detector de mentiras em Arthur Koehler, testemunha de acusação no julgamento de Bruno Hauptmann, condenado pelo sequestro e assassinato de Charles Augustus Lindbergh Jr. – o "bebê Lindbergh".
O uso do polígrafo pela polícia tornou-se generalizado ao longo da década de 1930. A não aprovação em um teste de detector de mentiras ajudou a condenar Virgil Kirkland (foto), condenado em 1931 pelo assassinato de Arlene Draves, de 19 anos. A imprensa descreveu a "máquina da verdade" como tendo sido aplicada a Kirkland.
Um dos usos mais divulgados de um polígrafo foi o aplicado a Robert M. "Red" Manly (foto). Manly era suspeito no famoso caso "Dália Negra" de 1947, quando Elizabeth Short foi encontrada mutilada e assassinada na Califórnia. Manly passou por vários testes voluntários de detector de mentiras para provar sua alegação de inocência, mas adormeceu repetidamente durante o interrogatório por fadiga e choque. Os testes foram declarados "inconclusivos". O caso segue sem solução.
Edward Gein, um dos assassinos em série mais infames dos Estados Unidos, foi submetido a um teste de detector de mentiras depois de ser preso em 1957 por suspeita de assassinar Bernice Worden e Mary Hogan. A decisão de fazer o teste foi tomada depois que testes preliminares provaram que Gein era um sujeito adequado, cooperativo e capaz de responder a perguntas simples de forma coerente. Mas o polígrafo aparentemente inocentou Gein de quaisquer outros assassinatos. Os psiquiatras concluíram que sua violência era direcionada apenas a mulheres que se assemelhavam fisicamente à sua mãe. No entanto, mais tarde, Gein se tornou suspeito de matar várias outras mulheres, depois que as autoridades vasculharam sua casa e encontraram várias partes de corpos espalhadas pelo local.
O fato de Gein ter passado no teste de detector de mentiras, apesar de ter cometido outros assassinatos além daqueles pelos quais ele havia sido acusado, destacou o fato de que o polígrafo não era infalível. A qualidade do teste depende da habilidade do examinador, pois a estrutura e o conteúdo das questões são as partes mais importantes do exame. No entanto, nem todos estavam na mesma página.
Na década de 1960, Cleve Backster (1924-2013), especialista em interrogatórios da CIA, começou a experimentar plantas usando um instrumento polígrafo, o que levou à sua teoria da percepção primária. Backster afirmou que as plantas sentiam dor e tinham percepção extrassensorial. Embora o trabalho de Backster tenha se tornado popular e tenha chamado a atenção do público, a reação da comunidade científica era previsível: suas alegações foram rejeitadas completamente.
Jack Ruby atirou e matou o assassino do presidente John F. Kennedy, Lee Harvey Oswald. Por isso, uma máquina de polígrafo modelo 6317 da Keeler foi usada nele. Na foto está o gráfico detalhando o resultado de seu interrogatório.
Os resultados do polígrafo de Ruby provaram que ele estava mentindo sobre dois pontos-chave, de acordo com o Comitê Seleto da Câmara. Primeiro, quando ele afirmou que nunca havia conhecido Lee Harvey Oswald antes de atirar nele; segundo, quando afirmou que não havia ajudado Oswald no assassinato. O teste colocou Ruby com Oswald antes do homicídio e mostrou que Ruby tinha feito parte da conspiração.
A fabricação e venda de equipamentos de polígrafo nos Estados Unidos ao longo da década de 1960 disparou. Um dos principais distribuidores dos dispositivos foi a Lafayette Instrument Company. Fundada em 1947 por Max Wastl, a empresa produziu o popular Ambassador (foto), entre outros modelos. A Lafayette Instrument Company continua sendo o fabricante líder mundial de instrumentação de polígrafo. Mas dúvidas sobre a integridade do polígrafo persistiram.
Falhas notáveis no detector de mentiras incluem a ocasião em que o ex-oficial de contrainteligência da CIA Aldrich Ames foi interrogado enquanto estava sob suspeita de ser um espião soviético e russo. Ele passou duas vezes em um teste de polígrafo enquanto enviava segredos para Moscou. Ames acabou sendo pego e condenado à prisão perpétua sem liberdade condicional.
Gary Ridgway, o chamado "Green River Killer", era suspeito da morte de quatro mulheres e foi submetido ao teste de polígrafo, que ele passou. Ridgway foi posteriormente deixado como suspeito e passou a matar outras 44 mulheres até ser pego e condenado.
Em outro exemplo de um teste de detector de mentiras que deu errado, o serial killer Charles Cullen, um enfermeiro apelidado de "Anjo da Morte" por assassinar pelo menos 40 pessoas dando-lhes injeções letais, enganou o polígrafo como suspeito inicial e passou. Depois disso, ele matou outros 39 pacientes antes de ser pego e condenado.
Mas fazer um teste de detector de mentiras também pode dar certo. Richard Jewell, o homem acusado do atentado ao Parque Olímpico do Centenário nos Jogos Olímpicos de Atlanta, em 1996, foi perseguido pelo FBI e pela imprensa para que confessasse. O escrutínio estressante só começou a diminuir depois que os advogados de Jewell contrataram um ex-agente do FBI para administrar um teste de polígrafo, que Jewell passou.
O polígrafo entrou na era da computação no início dos anos 1990, quando um software chamado PolyScore foi desenvolvido por estatísticos da Universidade Johns Hopkins, aumentando muito o nível de probabilidade de mentira ou sinceridade em um suspeito.
Os polígrafos computadorizados de hoje são capazes de atingir um nível de precisão de 98%. E, embora os resultados de um teste de detector de mentiras sejam inadmissíveis no tribunal, o dispositivo continua sendo um método popular de verificação de declarações em muitas agências e associações.
A Agência de Contrainteligência e Segurança de Defesa, com sede nos EUA, preparou um folheto para qualquer pessoa sob escrutínio. Ele descreve os requisitos de teste e considerações de saúde, entre outros tópicos.
Esse folheto também destaca temas e perguntas que provavelmente serão feitos com frequência durante o exame. Além disso, também mostra as dúvidas frequentes de quem passa pelo detector de mentiras.
Fontes: (Library of Congress) (IEEE Spectrum) (ScienceDirect) (Countway Library) (Scientific American) (Invention & Technology) (American Polygraph Association)
A detecção da mentira: A verdade sobre o polígrafo
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O polígrafo tem tudo a ver com a detecção de mentiras. Um dispositivo que mede e registra vários indicadores fisiológicos, como pressão arterial, pulso, respiração e condutividade da pele enquanto uma pessoa é questionada e responde a uma série de perguntas. O polígrafo é uma ferramenta forense potencialmente valiosa. Na verdade, ele tem sido usado por agências de aplicação da lei para extrair informações de suspeitos por mais de um século. Mas esse aparelho não está isento de falhas. Houve alguns fracassos notáveis onde as consequências foram trágicas.
Então, qual é exatamente a verdade por trás da fabricação desse engenhoso aparato? Clique e faça o teste.