O que sabemos sobre essas aparições, os milagres e as previsões da santa?
No início do século XVII, o supersticioso Rei Jaime I ocupava o trono inglês. O país estava cheio de medo do demoníaco e do sobrenatural durante seu reinado. Não fazia muito tempo, apenas algumas décadas, que a Inglaterra havia deixado de ser um reino católico para se tornar protestante, mas alguns cantos da Grã-Bretanha ainda estavam presos aos antigos costumes.
No norte, o condado de Lancashire era visto como um lugar onde as pessoas não se conformavam com as coisas modernas, o que muitas vezes causava problemas. Foi também o lugar onde aconteceu o julgamento de bruxas mais famoso do país. O bairro de Pendle tem sido associado com bruxaria há séculos. Dizem que o infame Pendle Hill seria o local de muitos atos e rituais sombrios, favorecidos pelas bruxas da região.
Uma jovem chamada Jennet Device morava em Pendle com sua família na casa de sua avó, Elizabeth Southerns, que também atendia pelo nome de Demdike.
A casa deles era chamada de Torre Malkin, o que pode soar grande, mas, que não passava de uma pequena construção dilapidada. Na verdade, a palavra "malkin" era uma gíria local para uma moça desleixada ou da vida. Acredita-se que a localização da casa da família ficava em algum lugar na encosta de Pendle aqui retratada.
Nem precisamos dizer que a reputação da família em Pendle não era das mais prestigiadas. Demdike e sua família se sustentavam pedindo esmolas pela cidade e fazendo trabalhos estranhos para seus vizinhos. No entanto, Demdike tinha outros serviços que podia oferecer.
Conhecida como Old Demdike pelos moradores locais, ela era o exemplo de uma "senhora astuta". Isso significava que ela tinha certas habilidades e conhecimentos que a tornavam valiosa para os aldeões mais pobres, que a procuravam para tratamento médico, pois não podiam pagar um médico de verdade.
Embora esse papel ambíguo trouxesse a Demdike alguma renda extra, também a colocava em risco. Na época, ser uma senhora astuta era visto invariavelmente como bruxaria pelas autoridades. Se Demdike se desentendesse com algum de seus clientes, eles poderiam facilmente denunciá-la como bruxa.
Demdike corria mais risco de ser vista como uma bruxa porque vivia com sua filha Elizabeth e seus netos Alizon, James e Jennet. Não havia homens adultos vivendo na Torre Malkin, já que o marido de Elizabeth havia morrido anos antes.
Elizabeth teve dois de seus filhos com seu falecido marido, mas sua caçula, Jennet, era ilegítima. Se levarmos em conta a época em que isso aconteceu, é muito provável que Jennet tenha crescido se sentindo inferior aos seus irmãos e como uma adição um tanto vergonhosa para a família.
A irmã de Jennet, Alizon, também sofria por ser integrante de uma família com má reputação. Muitos aldeões tratavam Alizon e os outros rudemente se os encontrassem na rua, acreditando que eram pagãos e feiticeiras.
Em 8 de março de 1612, Alizon passou por um vendedor ambulante e pediu um trocado. Ele a dispensou e seguiu em frente. Alizon o amaldiçoou baixinho e, momentos depois, o viu cair no chão, incapaz de se mover ou falar.
Com base em descrições detalhadas da condição do vendedor ambulante, é quase certo que o homem tenha sofrido um derrame. No entanto, Alizon acreditava que sua maldição tinha causado a doença súbita e implorou seu perdão. Infelizmente, o filho adulto do vendedor ambulante relatou o incidente a um magistrado ambicioso, chamado Roger Nowell.
Nowell entrevistou Alizon e a abalada jovem confessou que tinha enfeitiçado o vendedor ambulante e que quase o matou. Durante sua confissão, ela também acusou suas vizinhas de bruxaria, uma mãe e uma filha com o sobrenome de Chattox. Nowell então entrevistou as mulheres Chattox, que foram rápidas em acusar a família de Demdike de bruxaria para se defender.
Nowell tomou para si a responsabilidade de lançar uma caça às bruxas em Pendle para livrar a terra do mal. No mês seguinte, ele prendeu Alizon, Demdike e as mulheres Chattox. Mais tarde, ele prendeu Elizabeth, seu filho e vários outros depois que foi descoberto que eles haviam roubado uma ovelha e realizado uma reunião na Torre Malkin na Sexta-feira Santa, quando todos os cidadãos tementes a Deus deveriam estar na igreja.
Um total de 20 pessoas, incluindo toda a família da jovem Jennet Device, foram presas no Castelo de Lancaster para aguardar julgamento. O castelo foi uma prisão operacional até 2011. A parte da prisão onde eles estavam presos ainda é conhecida como a Torre das Bruxas.
Não está claro o que aconteceu com a jovem Jennet nos quatro meses em que sua família estava presa aguardando julgamento. Ela pode ter ficado sob os cuidados do magistrado Nowell, já que estava prestes a se tornar sua testemunha principal.
A mãe de Alizon, Elizabeth, era a próxima a ser julgada. Ela não estava arrependida como sua filha e furiosamente protestou pela sua inocência. No entanto, sua outra filha, Jennet, de nove anos, foi levada a depor contra ela.
Jennet chorava enquanto sua mãe gritava para que dissesse ao tribunal que ela era inocente. Elizabeth foi retirada e Jennet teria parado de chorar e subido em cima de uma mesa para condenar calmamente sua mãe e o resto de sua família como bruxas. Ela alegou que a reunião da Sexta-Feira Santa na Torre Malkin foi na verdade uma reunião de bruxas.
Jennet forneceu detalhes estranhos para apoiar suas alegações, afirmando que tinha visto o espírito de sua mãe ser transferido para um cão, matando um homem local. Ela também acusou o irmão de bruxaria e disse que viu seu espírito matar três pessoas.
O testemunho de Jennet foi declaradamente muito calmo, claro e arrepiante em seus detalhes. Historiadores modernos especulam que a antipatia de Jennet por sua família foi manipulada pelo magistrado, que a pressionou a testemunhar com o intuito de se salvar.
Não está claro o que aconteceu com Jennet Device nos anos que se seguiram. É improvável que qualquer família tenha recebido a menina que tinha mandado todos os seus parentes para a morte.
Em 1633, depois de 22 anos dos julgamentos das bruxas de Pendle, um jovem menino de Pendle, chamado Edmund Robinson, disse a seus pais que estava colhendo frutas silvestres quando viu um cachorro se transformar em uma bruxa, que então o levou para um celeiro cheio de bruxas lançando feitiços. Ele escapou por pouco e foi para casa para contar a história fantástica.
O pai do garoto o levou de cidade em cidade para identificar as bruxas que ele tinha visto naquela noite. Ao final do passeio, 20 pessoas tinham sido presas por bruxaria. Uma delas era uma mulher chamada Jennet Device.
No entanto, os tempos tinham mudado e as "bruxas" não foram imediatamente sentenciadas à morte. O caso foi enviado para Londres para uma nova revisão. Jennet Device permaneceu na prisão no Castelo de Lancaster, lugar no qual sua família passou meses trancafiada antes de suas mortes.
Mais tarde, o garoto foi questionado por investigadores de Londres e não resistiu à pressão. Ele admitiu que não tinha visto nenhuma bruxa e que simplesmente inventou a história. Ele também revelou que o pai tinha usado isso como oportunidade de fazer chantagem, dizendo-lhe para identificar as mulheres como bruxas se elas se recusassem a pagar um suborno.
Graças a esta investigação adicional e seus resultados, Jennet Device e seus companheiros prisioneiros foram absolvidos. Jennet teve mais sorte em seu julgamento do que a família dela. Apesar dela ter escapado com vida por pouco, muitos outros que vieram depois não tiveram tanta sorte.
Os julgamentos das bruxas de Salém, em Massachusetts, EUA, começaram em 1692, durante os quais grande parte das evidências foram fornecidas por crianças. O depoimento de Jennet Device em 1612 foi citado pelos promotores como prova de que as crianças podem ser testemunhas eficazes. É aterrorizante pensar no número de pessoas, em sua maioria mulheres, que foram condenadas à morte com base em testemunhos não confiáveis ou manipulados.
Fontes: (Chronicle - Medieval History Documentaries) (Historic UK) (The History Press)
Depois disso, os prisioneiros foram exibidos e Jennet precisou apontar quais ela reconhecia da reunião da Sexta-Feira Santa. No final, 10 pessoas foram condenadas à morte por enforcamento por causar dano ou morte por bruxaria. Os condenados incluíam todos os membros da família de Jennet.
Mulheres astutas eram vistas como pessoas que usavam mais ou menos os mesmos poderes que as bruxas, mas para o bem. Elas usavam suas habilidades para curar pessoas ou quebrar maldições, enquanto as bruxas eram as que matavam e amaldiçoavam.
Os julgamentos das bruxas de Salém ocorreram no final do século XVII e se tornaram os mais famosos de todos os julgamentos envolvendo bruxas. Porém, existem outros julgamentos mais sombrios ainda. Os julgamentos das bruxas de Pendle, na Grã-Bretanha, ocorreram várias décadas antes e foram tão devastadores e perturbadores quanto os de Salém. Só para se ter uma ideia, os julgamentos de Pendle foram usados como base pelos promotores puritanos nos Estados Unidos. E um dos elementos incomuns que eles escolheram adotar foi o uso de depoimentos de crianças pequenas.
O julgamento das bruxas de Pendle em 1612 contou inteiramente com testemunhos oculares fornecidos por uma menina de nove anos que depôs contra toda a sua família e a mandou para a morte. Clique na galeria a seguir para saber sobre este capítulo horrível da história e como ele influenciou os séculos de caça às bruxas que se seguiram.
Em 18 de agosto de 1612, os julgamentos das bruxas de Pendle começaram. Alizon Device, com quem tudo havia começado, ainda acreditava que tinha usado algum tipo de poder maligno para amaldiçoar o vendedor ambulante e não tentou se defender. Ela disse que sua avó teria sido capaz de ajudar a restaurar a saúde do homem, mas a idosa Demdike havia morrido na cela da prisão antes do julgamento começar.
Salém não foi nada perto dessa caça às bruxas que envolveu até crianças
Um julgamento das bruxas de Pendle baseado no testemunho de uma menina de nove anos resultou em 10 execuções
LIFESTYLE Bruxaria
Os julgamentos das bruxas de Salém ocorreram no final do século XVII e se tornaram os mais famosos de todos os julgamentos envolvendo bruxas. Porém, existem outros julgamentos mais sombrios ainda. Os julgamentos das bruxas de Pendle, na Grã-Bretanha, ocorreram várias décadas antes e foram tão devastadores e perturbadores quanto os de Salém. Só para se ter uma ideia, os julgamentos de Pendle foram usados como base pelos promotores puritanos nos Estados Unidos. E um dos elementos incomuns que eles escolheram adotar foi o uso de depoimentos de crianças pequenas.
O julgamento das bruxas de Pendle em 1612 contou inteiramente com testemunhos oculares fornecidos por uma menina de nove anos que depôs contra toda a sua família e a mandou para a morte. Clique na galeria a seguir para saber sobre este capítulo horrível da história e como ele influenciou os séculos de caça às bruxas que se seguiram.