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O poder do xixi -

Em 2018, estudantes universitários na África do Sul anunciaram que tinham utilizado urina humana com cal – hidróxido de cálcio em pó – para criar tijolos ecológicos. Essa notícia resgatou os usos que nosso xixi teve ao longo de milhares de anos.

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Usos históricos da urina -

Os usos históricos da urina remontam a 5.000 anos, na Índia, onde se bebia xixi para rejuvenescer, uma prática conhecida como Shivambu, que foi descrita em textos sagrados de ioga.

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Urina para fins medicinais -

Os antigos gregos e romanos usavam urina para fins medicinais, inclusive no tratamento de diversas doenças. Plínio, o Velho, por exemplo, recomendava xixi fresco para o tratamento de "feridas, queimaduras, afecções do ânus, rachaduras e picadas de escorpião".

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Uso como enxaguante bucal -

Os romanos usavam a urina como enxaguante bucal, sendo a amônia o ingrediente ativo para refrescar o hálito.

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Uso como pasta de dente -

Da mesma forma, a pasta de dente de urina servia para clarear os dentes daqueles que desejavam um sorriso brilhante e branco como a neve, segundo o poeta romano Catulo.

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Benefícios para a saúde da urina -

No início da Europa moderna, os supostos benefícios da urina foram defendidos por médicos conhecidos.

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Feridas lavadas na urina -

O cirurgião de Henrique VIII, Thomas Vicary (c. 1490–1561), visto aqui recebendo uma carta do monarca inglês, recomendou que todos os ferimentos de batalha fossem lavados com urina.

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Uso como substituto de líquido -

Ocasionalmente, a urina serviu como substituto líquido para salvar vidas. Na primeira metade dos anos 1500, quando o explorador português Fernão de Magalhães circunavegou o mundo, a sua tripulação tinha um abastecimento de água limitado e recorreu a beber a própria urina.

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Banho nas pálpebras para aliviar coceira -

O francês Ambroise Paré (1510-1590), o cirurgião mais famoso do século XVI, defendeu o uso de urina para banhar as pálpebras que coçam, desde que o xixi fosse primeiro mantido "a noite toda na bacia de um barbeiro".

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Uso como antisséptico -

O italiano Leonardo Fioravanti (1517-1588), um barbeiro-cirurgião que influenciou o desenvolvimento da cirurgia reconstrutiva, aparentemente testemunhou o nariz de um homem cortado durante uma discussão e - acreditando nos poderes antissépticos da urina - prontamente fez xixi no órgão caído antes de suturá-lo de volta.

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Xixi e a praga -

Nem todos os médicos acertaram o alvo. George Thomson (c. 1619–1676) recomendou o uso de urina contra a peste. Mesmo assim, a doença matou milhões.

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Elixir para a garganta -

Diz-se que o famoso médico inglês Thomas Willis (1621-1675), membro fundador da Royal Society, instruiu uma paciente a beber sua própria urina quente contra a "acidez extrema" em sua garganta.

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Beba enquanto estiver quente -

Beber um copo de xixi também foi defendido pelo químico anglo-irlandês Robert Boyle (1627-1691), que aconselhou alguns de seus pacientes a beberem todas as manhãs "um gole moderado de sua própria urina", de preferência enquanto "ainda estiver quente".

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Urina não adulterada -

Sébastien Matte La Faveur (1629–1714) foi bastante meticuloso na prescrição de urina. Em 1671, um químico francês coletou pacientemente grandes quantidades de urina de criança não adulterada (dezenas de litros de "crianças pequenas que bebem muito pouco vinho") para fazer dela um sal volátil, presumivelmente para tratar feridas.

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A roda da urina -

Em meados do século XVIII, tabelas coloridas de rodas de urina estavam sendo publicadas para uso por estudantes de Medicina como um guia para a concentração e diluição da urina e suas aplicações medicinais correspondentes.

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Uso em cosméticos -

A urina desempenhou um papel útil no desenvolvimento dos primeiros cosméticos. O médico e clérigo inglês William Bullein (c.1515–1576) aconselhou aqueles "cujos rostos estão impuros" a lavarem a pele com "vinagre forte, leite e urina de menino".

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O poder de limpeza do xixi -

O poder de limpeza da urina era tal que, em vez de usar sabão, os primeiros lavadores europeus preferiam usar urina como amônia para remover manchas difíceis de roupas.

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Uso na lavagem de roupas -

Na verdade, o uso da urina para fins de lavagem não era novidade. Na época romana, tonéis de urina recolhidos do público eram levados para uma fullonica (lavandaria), diluídos em água e despejados sobre a roupa suja. Em seguida, um trabalhador ficava no tanque de urina e pisava nas roupas, semelhante ao agitador de uma máquina de lavar moderna.

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Uso em tintura -

Robert Boyle, mencionado anteriormente nesta lista, também observou como a urina era altamente valorizada pelos tintureiros. Na verdade, o xixi velho era tão vital para a indústria têxtil da Inglaterra do século 16 que enormes barris dele foram enviados de todo o país para Yorkshire, onde foi misturado com alume para formar um mordente ainda mais forte (uma substância que ajuda a ligar o corante ao pano) do que apenas a urina.

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Força da amônia -

A urina velha era preferida pela indústria têxtil porque a amônia nela contida era mais forte, produzindo assim um corante mais robusto.

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Uso muito antigo na fabricação de corantes -

Na verdade, a urina era usada na fabricação de corantes já no século V dC. O Codex Purpureus Rossanensis, também conhecido como Evangelhos de Rossano, foi criado há 1.500 anos como uma cópia bizantina do Novo Testamento. A análise revelou que a tonalidade roxa das páginas derivava da orceína – um corante extraído do fungo Roccella tinctoria e depois processado com urina fermentada.

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Uso no couro -

A indústria de curtumes também utilizou xixi no processo de fabricação. Embeber peles de animais em urina tornou mais fácil para os trabalhadores do couro remover pelos e pedaços de carne da pele. Na foto, está uma gravura representando os santos Crispim e Crispiniano, os santos padroeiros cristãos dos sapateiros, curtidores e trabalhadores do couro.

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Uso em pólvora -

Você sabia que antes do início do século 20, a urina era usada para fazer pólvora? Os fabricantes aproveitavam o nitrogênio encontrado naturalmente no xixi para produzir nitrato de potássio, o ingrediente principal do poder de fogo balístico.

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Tomar banho de urina -

A crença de alguns nos poderes de limpeza da urina foi testemunhada por Meriwether Lewis e William Clark, da Expedição Lewis e Clark de 1804-1806, ao Oeste dos Estados Unidos. Durante sua jornada épica, os exploradores descreveram os nativos americanos tomando banho de urina diariamente.

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Máscara de gás de urina -

No século seguinte, durante a Primeira Guerra Mundial, muitos combatentes usaram remendos de pano embebidos em sua própria urina como máscaras de gás rudimentares (a amônia na urina neutralizando o cloro no gás).

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Uso de urina hoje -

Hoje, esse chamado ouro líquido está sendo estudado por cientistas como fonte de energia elétrica. Por exemplo, bactérias que comem urina podem criar uma corrente forte o suficiente para alimentar um telefone celular.

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Abastecendo carros a hidrogênio -

A tecnologia também foi desenvolvida para gerar combustível de hidrogênio a partir da urina. Na verdade, a energia do xixi poderia abastecer carros a hidrogênio porque a urina contém dois compostos que podem ser uma fonte de hidrogênio: amônia e ureia.

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Uso na criação de células-tronco -

Recentemente, células-tronco adultas isoladas da urina, denominadas células-tronco derivadas da urina (USCs), têm atraído interesse crescente, pois possuem muitas propriedades desejáveis para terapia baseada em células.

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Utilização na fabricação de cremes para a pele -

E na indústria cosmética, a ureia, uma molécula natural encontrada abundantemente na urina de mamíferos e que demonstrou ter propriedades antibacterianas e antifúngicas, continua a ser um ingrediente importante em cremes medicinais para a pele.

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Um brinde ao xixi! -

Enquanto isso, a crença hindu no xixi como um estimulante refrescante e rejuvenescedor foi demonstrada recentemente, em 2020, em Nova Delhi, quando membros e apoiadores da Akhil Bharat Hindu Mahasabha, uma organização hindu, beberam urina de vaca enquanto participavam de uma festa, aparentemente para lutar contra a propagação da Covid-19.

Fontes: (Smithsonian Magazine) (The Guardian) (Live Science) (BBC) (National Center for Biotechnology Information) (National Institutes of Health)   

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