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O Tratado de Tordesilhas efetivamente deu a Espanha e Portugal liberdade para dividir e conquistar dentro de sua esfera de influência. Mas quais foram as circunstâncias que levaram à elaboração desse documento do século XV?
O Império Português expandiu-se exponencialmente ao longo dos séculos XV e XVI, originando-se no início da Era dos Descobrimentos, um período de extensa exploração ultramarina que também viu a Espanha buscar novas terras além da Península Ibérica.
Mas foi Portugal que liderou o caminho. A carta Portulano de 1439 do cartógrafo espanhol Gabriel de Valseca (foto) documenta os primeiros "descobrimentos" portugueses. Sua representação do Oceano Atlântico se estende até o Rio de Oro (a região geográfica sul do Saara Ocidental) e inclui as ilhas atlânticas dos Açores, Madeira e Canárias.
No final do século XV, grande parte da costa oeste da África havia sido reivindicada para Lisboa por navegadores portugueses, entre eles Diego Cão, visto aqui erguendo um pilar comemorativo, mais conhecido como padrão, ao longo da costa oeste da África.
As terras mapeadas ao sul do Cabo Bojador incluíam os atuais Senegal, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Serra Leoa e Angola.
Em 1488, o marinheiro e explorador português Bartolomeu Dias tornou-se o primeiro navegador europeu a contornar o extremo sul da África, onde o Oceano Atlântico encontra o Oceano Índico.
Dez anos depois, em 1498, Vasco da Gama desembarcou em Calecute, na Índia. Esta descoberta de uma rota marítima para a Índia foi um divisor de águas para Portugal. Dava acesso às lucrativas rotas das especiarias, que impulsionavam a economia do florescente Império Português.
Uma consequência muito menos saudável da exploração marítima de Portugal foi o estabelecimento do tráfico europeu de escravos. Elmina foi o primeiro assentamento europeu na África Ocidental, localizado na atual Gana. A vila cresceu em torno do Castelo de São Jorge da Mina - a sede da África Ocidental para o comércio de escravizados e para a exploração das riquezas africanas, construída por Diogo de Azambuja em 1482.
A Espanha, alarmada com a acumulação de vastas riquezas de Portugal e seu domínio do tráfico de escravizados, já havia lutado contra Portugal pelo controle da região e seus valiosos recursos na Batalha Naval da Guiné em 1478, durante a Guerra de Sucessão de Castela.
A guerra terminou com uma vitória portuguesa e, com ela, o reconhecimento da soberania portuguesa sobre a maior parte dos territórios da África Ocidental em disputa. Os Reis Católicos da Espanha – a Rainha Isabel I e o Rei Fernando II – fizeram isso através do Tratado de Alcáçovas de 1479.
O tratado também reconheceu o controle castelhano das Ilhas Canárias, mas confirmou a posse portuguesa dos Açores, Madeira e Cabo Verde, e deu aos portugueses direitos sobre quaisquer outras ilhas ou terras no Atlântico que pudessem ser descobertas.
À medida que a exploração portuguesa se expandia para leste, um homem decidiu rumar para oeste: Cristóvão Colombo.
Colombo, buscando uma passagem marítima ocidental para as Índias Orientais, em uma tentativa de capturar uma fatia do lucrativo comércio de especiarias, conseguiu persuadir os Reis Católicos a patrocinar uma viagem através do Oceano Atlântico, que ele erroneamente acreditava que o levaria para a Ásia.
Em vez disso, é claro, Colombo desembarcou em uma ilha nas Bahamas em 1492, conhecida por seus habitantes nativos como Guanahani. Em seguida, visitou as ilhas conhecidas como Cuba e Hispaniola (esta última atualmente dividida entre Haiti e República Dominicana). Colombo inadvertidamente havia desembarcado nas Américas.
A notícia de sua viagem logo se espalhou por toda a Europa, e certamente não se perdeu na corte portuguesa. Após seu retorno, Colombo imediatamente se preparou para uma segunda viagem, novamente patrocinada por Isabel I e Fernando II.
Mas depois de saber da viagem de Colombo, o rei português, Dom João II, enviou uma carta ameaçadora aos Reis Católicos lembrando-lhes que, de acordo com o Tratado de Alcáçovas, todas as terras ao sul das Ilhas Canárias pertenciam a Portugal, e isso incluía as que foram descobertas por Colombo.
D. João II avisou aos espanhóis que já se preparava para despachar uma frota, liderada por Francisco de Almeida (foto), através do Atlântico e que iria tomar posse das novas terras. A Espanha, por sua vez, alertou Portugal contra qualquer tentativa de reivindicar o Novo Mundo. As duas nações estavam à beira da guerra.
Em vez de arriscar um conflito, ambas as nações concordaram em resolver a disputa diplomaticamente. Cada uma enviou embaixadores para discutir formas de chegar a um acordo, visando estabelecer os direitos de cada nação no Atlântico. O que foi proposto foi radical e sem precedentes.
Espanha e Portugal efetivamente dividiram o mundo até então conhecido ao traçar uma linha de demarcação de norte a sul no Oceano Atlântico.
Para acomodar esses territórios, o Papa espanhol Alexandre VI emitiu bulas pontifícias estabelecendo essa margem, de polo a polo, a 100 léguas (555 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde, ao largo da costa do noroeste da África e então controlada por Portugal. Todas as terras a leste dessa linha foram reivindicadas por Portugal. Todas as terras a oeste dessa linha foram reivindicadas pela Espanha.
Em 1494, o Tratado de Tordesilhas, nomeado em homenagem à cidade em que foi redigido, foi assinado entre Espanha e Portugal. Dividiu nitidamente o Novo Mundo em terras, recursos e pessoas, reivindicadas por ambas as nações.
Como ressalva, nenhum dos dois poderes ocuparia qualquer território já nas mãos de um governante cristão.
Dom João II, no entanto, ainda não estava satisfeito com as letras pequenas. Ele acreditava que os direitos de Portugal no Novo Mundo não estavam suficientemente afirmados. Sentia também, e com mais preocupação, que a frota portuguesa não teria espaço suficiente no mar para suas viagens africanas.
Todos foram convocados à mesa e a linha foi redesenhada, movida mais 270 léguas (cerca de 1500 km) mais para oeste em 1506. Isso permitiu que Portugal reivindicasse a costa leste do que hoje é o Brasil.
Em 1500, Pedro Álvares Cabral tinha sido o primeiro europeu a "descobrir" o Brasil.
O tratado a esse respeito foi extremamente significativo na medida em que permitiu a exploração e o povoamento português muito a oeste da linha de demarcação nos séculos subsequentes e estabeleceu uma base firme para as reivindicações do Brasil sobre vastas áreas do interior da América do Sul.
Ao todo, Colombo completou quatro viagens ao Novo Mundo. Suas expedições inauguraram um novo período de exploração, conquista e colonização, dando início à era dos conquistadores e de Hernán Cortés, o homem que causou a queda do Império Asteca.
Os conquistadores se dirigiram mais para o sul em um esforço lento, mas progressivo, para estabelecer cidades e exercer domínio cultural sobre os nativos. Eles roubavam e saqueavam: no final do século XVI, as importações de ouro e prata das Américas forneciam um quinto do orçamento total da Espanha. O domínio espanhol sobre a América do Sul durou três séculos, só terminando no início do século XIX.
Enquanto isso, os portugueses continuavam a se expandir para o leste da Ásia. Em 1511, Afonso de Albuquerque navegou para Malaca, na atual Malásia, o ponto oriental mais importante da rede comercial. Dois anos depois, a bandeira portuguesa foi hasteada na China. Em 1543, foi feito o primeiro contato com o Japão.
O legado do Tratado de Tordesilhas é misto. Por um lado, é uma importante referência não só à história do Oceano Atlântico, mas também à memória do mundo, permitindo o encontro de continentes e civilizações separados por oceanos desconhecidos.
Por outro lado, o documento ignorou completamente milhões de pessoas que já viviam em comunidades estabelecidas nas Américas. De fato, a conquista e colonização resultantes se mostraram desastrosas para muitas civilizações, como os Incas, Taínos e Astecas, juntamente com milhares de outras comunidades que viviam nessas terras.
Fontes: (National Geographic) (Britannica) (UNESCO)
Do seu lado da linha e dos territórios dos astecas vencidos, os espanhóis expandiram o domínio espanhol para o norte da América Central e partes do que é hoje o sul e o oeste dos Estados Unidos. Outros conquistadores tomaram conta do Império Inca. Os povos indígenas derrotados foram forçados a se converter ao Cristianismo.
Em junho de 1494, foi criado um documento que efetivamente dividia as terras "recém-descobertas" fora da Europa entre o Império Português e o Império Espanhol. Conhecido como Tratado de Tordesilhas, este acordo entre as duas superpotências marítimas teria um efeito profundo na história mundial e revelar-se-ia desastroso para milhões. Mas o que exatamente esse tratado implicou e quem se beneficiou dele?
Clique na galeria a seguir e saiba mais sobre essa aliança notável, mas controversa.
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Como o Tratado de Tordesilhas entre Espanha e Portugal realmente aconteceu
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Em junho de 1494, foi criado um documento que efetivamente dividia as terras "recém-descobertas" fora da Europa entre o Império Português e o Império Espanhol. Conhecido como Tratado de Tordesilhas, este acordo entre as duas superpotências marítimas teria um efeito profundo na história mundial e revelar-se-ia desastroso para milhões. Mas o que exatamente esse tratado implicou e quem se beneficiou dele?
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